quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Mondial de L’Automobile – Paris 2-17 Outubro 2010







O Salão do Branco


Estive no Salão de Paris no dia dedicado à Media, a convite da Jaguar, e tive oportunidade de reencontrar alguns antigos colegas e amigos “dos automóveis”. O ar de estupefacção de me verem ali, após alguns anos de ausência, só seria ultrapassado pelo que os expositores – leia-se construtores – apresentaram ao Mundo.

Maserati Stradale


A primeira e mais vasta impressão que recolhi do Salão foi a intenção dos construtores de darem uma imagem limpa, pura, dos seus produtos em relação ao meio ambiente. Foi quase exaustiva a preocupação de todos apresentarem os seus carros em branco. Imaginam um Maybach branco? Tenho a foto.

Híbrido Nissan


A leitura que faço, através deste Salão, do que vai no pensamento e intenções dos construtores, assenta no facto deles terem levado à exposição as suas últimas criações em veículos eléctricos, daqueles totalmente movidos através das baterias. Claro, não se aventuraram muito nos carros grandes, antes em versões citadinas onde 100 km de autonomia bastante para as deslocações quotidianas dos cidadãos urbanos. Umas scooters eléctricas e umas bicicletas “a pilhas” rematavam o ramalhete do caminho apontado: em breve, talvez dentro de uns 10 anos, haverá uma existência de uns 3 a 5% de veículos movidos a volts.
Volvo V60


Mas, para já, fiquemos com os “bons velhos” motores de combustão interna, imprescindíveis até para servirem de carregadores das baterias dos … eléctricos.


Para mim, foi o Salão da Cautela. Diz o nosso povo que “cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém”, é exactamente o que os grandes patrões da indústria estão a praticar. Para o exterior, isto é, para os jornalistas, transpiram optimismo por todos os poros. Mas, no interior, sabem bem que há ainda um caminho a percorrer. E que não é necessariamente atapetado de pétalas.
Range Rover Evoque


As projecções são boas. Crescimento mundial da ordem dos 3, 4% em 2011, qualquer coisa como 70 milhões de veículos, portanto bem acima dos 69 milhões em 2009. O patrão da Volkswagen, o maior produtor europeu, vê as projecções em alta com uma previsão de crescimento da ordem dos 6 a 7%. A razão de tamanho alegria está na China, mas também na Índia e na América Latina que estão em franca explosão, junto com a Rússia, que está a levantar-se das cinzas.

Jaguar CX75


A par com a vitória sobre a crise, a indústria automóvel mundial sofre de várias incertezas, uma delas radicada na ideia de que o mercado é volátil. Mas é bom ouvir um dos patrões, o sr. Martin Winterkorn, da VW, dizer que o seu grupo vai ultrapassar os números do ano passado e vai tocar na cifra dos 6,29 milhões de veículos. O grupo PSA-Peugeot/Citroën estima realizar 3,5 a 3,6 milhões contra os 3,2 milhões do ano passado. A Renault também antecipa uma subda para 2,5 milhões. Logicamente, este crescimento vai trazer lucros. Carlos Ghosn, o patrão da Renault disse claramente que vai ser positivo em 2010, independentemente das suas participações na Nissan e na Volvo. O grupo já terá beneficiado de um resultado de 823 milhões de Euros na primeira parte deste ano. A PSA prevê resultados operacionais de 1,5 milhões de Euros
Honda


Os construtores europeus – e não só eles – não resolveram ainda o problema consignado na capacidade de sobre produção das fábricas que lhes acarreta um peso descomunal nos encargos. Os construtores franceses, por exemplo, tiveram de deslocalizar as suas fábricas de carros pequenos para os países do Leste europeu. A taxa de utilização das usinas francesas situa-se actualmente em 65%. Os especialistas dizem que se não atingirem os 80%, não são rentáveis. Não há volt(a) a dar-lhe.


Toyota à carga
Á VOLTA DO VOLT


Paris foi a confirmação dos carros eléctricos como futuros meios de deslocação. Mais urbana que extra urbana. As baterias são o elemento mais caro desta tecnologia. Ficam, nos dias de hoje, ao custo de 12 mil Euros. Acredita-se que descerão para uns bons 5 mil Euros em … 2014/2015. Assim, tudo o que os construtores - e alguns governantes – disserem sobre as maravilhas do carro eléctrico, não é bem assim, é preciso esperar mais uns tempos. As contas são fáceis de fazer. Um carrito eléctrico, desses feitos para a cidade, com autonomia de entre os 100 e os 150 km, pode ter um custo de operação da ordem dos 2 Euros por quilómetro. É atraente. Mas, na compra, mesmo abrangido pelos benefícios energéticos, será sempre um carro caro. Tudo bem. O sistema financeiro fabrica um programa de pagamentos prolongados, o cliente sente-se bem por contribuir para o bem-estar do buraco de ozono mas levanta-se a outra questão adjacente: onde estão os pontos de abastecimento? Não há. As cidades não estão viradas ainda para esta nova situação. Tudo bem, liga-se o carro à tomada lá de casa. São precisas umas boas 8 horas para carregar a pilhas, isto é, as baterias. Oito horas? Sim de acordo, há algumas que aceitam uma carga rápida de três horas. Três horas? Alguém de bom senso, com responsabilidades laborais, urbano, tem tempo para esperar esse tempo todo para levar o seu popó? Duvido.
Audi eTron


Os construtores estão a fazer “o seu melhor”, como costumava dizer Lamy antes de um Grande Prémio, para fazerem acreditar o mercado nos benefícios do eléctrico. É normal. Jà fizeram investimentos gigantescos em pesquisa. Precisam de recuperar. Usam todas as estratégias possíveis para fazerem passar a mensagem.

Traseira do Octavia da Skoda


Pessoalmente, acredito que sim, que o eléctrico é solução politicamente conveniente e ambientalmente correcta. Emissões Zero são sempre uma boa nota de marketing. Mas a verdade é que estamos num mundo ainda muito mal conhecido, este dos veículos eléctricos. Daí que os construtores se mantenham em bicos de pés, como a Pantera Cor-de-rosa que não quer acordar o snr. Guarda quando vai fazer uma “maldade”.
Infiniti hibrido


O Salão de Paris foi um marco de viragem, um cruzamento de intenções, um beco sem saída dos construtores. Só os próximos dois, três anos nos darão algumas leituras mais claras, mais nítidas, Viram bem? Falei de dois, três anos. Não é assim tanto tempo.


Não me ocupei muito ou quase nada dos híbridos. Exactamente! Não são nem carne nem peixe. Precisam de uma coisa para fazer andar outra. Isto é, precisam de uma ajuda térmica a gasolina ou gasóleo para carregar baterias e fazer girar motores eléctricos. A diferença está no excepcional Jaguar CX75, eléctrico com duas turbinas alimentadas a diesel, uma excepção à regra. O carro pode percorrer 800 quilómetros sem parar para…carregar baterias.


Mas, isto, só lá para 2020.

Até lá, ficamos a ...... ................>>>>>>>>>>>>>>>


3 comentários:

  1. Pois, já há tempo que se lembraram que há quem goste do branco e que até havia quem estivesse cansado de andar com um fato igual aos outros... Agora o branco deu em moda como nos anos 70, mas agora mais branco, não como o OMO mas como a neve...
    De tudo isto, gostei realmente da imagem relativa ao Octavia. Vou procurar mais :D

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  2. Agradeço ao M. Ricardo Ferreira a gentileza do seu comentário. Tomo a liberdade de o publicar aqui, no seu devido lugar.


    Manuel Ricardo Ferreira enviou-lhe uma hiperligação para um blogue:

    Parabens pela reportagem e pela análise bem feita. E a tua foto do Jaguar é bem melhor que a oficial...

    Blogue: CAR PRESS OFFICE
    Mensagem: Mundial de L’Automobile – Paris 2-17 Outubro 2010
    Hiperligação: http://carpressoffice.blogspot.com/2010/10/mundial-de-lautomobile-paris-2-17.html

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  3. É com muito prazer que me vou deliciando com os seus artigos sobre o mundo automóvel.
    Deixou saudades cá na "nossa" Angola, aonde espero que regresse brevemente.

    O "Cota" cá das corridas
    Abraço
    Moura Fernandes

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